segunda-feira, 6 de abril de 2009

Recurso naturais

A água

A água é dos principais componentes dos sistemas vivos, o líquido mais comum da biosfera e o recurso mais precioso.

As características climáticas da ilha da Madeira são influenciadas de forma marcada ou mesmo definidas pelo relevo vigoroso e pela orientação E-W da ilha. A orientação da ilha e o seu relevo intersectam as massas de ar marítimo que se deslocam no oceano Atlântico, no sentido NW-SE, o que origina intensa precipitação nas zonas mais elevadas da ilha e em todo o Norte. Nas encostas Sul e nas baixas altitudes, as precipitações são muito menores. Assim, verifica-se que em toda a costa Norte e nas zonas altas da ilha, as precipitações são intensas e distribuem-se por quase todo o ano com diminuição significativa apenas nos meses de Julho, Agosto e Setembro em que há menor precipitação e menos dias de chuva; na costa Sul passam –se quase seis meses sem precipitação.
A separação entre os dois pólos de precipitações mais elevadas faz-se ao longo dos vales da Ribeira Brava e de São Vicente onde a altitude máxima é de cerca de 1000 metros na Encumeada, que corresponde à divisória entre os dois vales.
Do ponto de vista hidrológico, podemos afirmar que a existência de maiores ou menores recursos hídricos subterrâneos depende das características geológicas e geomorfológicas.
As escoadas constituem os níveis preferenciais de infiltração e circulação subterrânea. Os filões funcionam como zona drenante, em particular quando atravessam os piroclastos. Estes têm comportamento bastante diversificado e dependem das características granulométricas. Os cineritos constituem um nível impermeável e, consequentemente, dão lugar ao aparecimento de nascentes que surgem nas suas mais variadas cotas, em locais topograficamente favoráveis.
As nascentes situam-se a altitudes bastantes diferentes e, nalguns casos, quando as águas não são devidamente aproveitadas, voltam a infiltrar-se sempre que atravessam níveis de escoadas, contribuindo para aumentar os caudais de nascentes a cotas inferiores. São particularmente caudalosas as nascentes situadas a cotas de cerca de 100 metros, como por exemplo as do Risco e das Vinte e Cinco Fontes no Rabaçal.
Os piroclastos mais grosseiros comportam-se como aquitardos, constituindo armazenamento significativo cujo aproveitamento se faz recorrendo a galerias que são produtivas sempre que intersectam níveis de escoadas intercaladas nos piroclastos ou filões que o atravessam.
As águas da ilha da Madeira são quase sempre pouco mineralizadas, com condutibilidade geralmente inferiores a 300 u/s (micra por segundo) e quimicamente distribuem-se entre o tipo bicarbonatado sódico e cloretado sódico. Até aos 700 e acima dos 1300 metros predominam as águas cloretadas, respectivamente por efeito do mar e dos nevoeiros, enquanto nas altitudes compreendidas entre estes valores predominam as águas bicarbonatadas (ALMEIDA e tal. 1984). As composições são muito idênticas às águas de Luso e de Caramulo, podendo ser usadas como águas de mesa se forem bacteriologicamente puras.
O pH é geralmente superior a 7 até aos 1000 metros e bastante inferior nas nascentes situadas acima daquela cota.
A temperatura mostra uma acentuada correlação com a altitude verificando-se um decréscimo de cerca de 1º C por cada 200 metros de aumento de cota.
O aproveitamento dos recursos hídricos da ilha da Madeira foi iniciado no séc. XV, algumas décadas após a colonização da ilha, criando o sistema de “levadas”. Estas, permitem captar as águas das nascentes e algumas superfícies e conduzi-las ao longo das curvas de nível até onde são necessárias às culturas. As águas assim captadas destinam-se quase exclusivamente à irrigação de culturas situadas na costa Sul, onde o clima é mais seco.
Actualmente se está desenvolvendo um plano global que visa o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos na produção de energia eléctrica, no regadio e no abastecimento público.
É na concretização deste Plano que foram construídas as centrais hidroeléctricas actualmente existentes e outras recentemente projectadas.
O desenvolvimento turístico levou a dificuldades no abastecimento público sendo as necessidades superadas à custa da água de regadio.
É neste contexto que se desenvolveram projectos de captação através de furos e se avança na construção de novas galerias.

Ribeira Brava

A povoação encontra-se situada no grande vale de erosão que se desenvolve até S. Vicente na costa Norte com a divisória situada na Encumeada a 1000 metros de altitude.
Do ponto de vista geomorfológico, o vale da Ribeira Brava – S. Vicente faz a divisão da ilha em zona planáltica a Oeste e zonas dos picos a Este.
O abastecimento de água é feito a partir de dois furos executados na margem do vale, a um profundidade de 30 a 60 metros tendo produtividades de 5 l/s, captados em níveis basálticos. Utiliza-se ainda uma galeria de dimensões restritas situada no Espigão que fornece um caudal de 12l/s.
A levada do Norte que circula a cerca de 1000 metros de altitude, foi construída entre 1947 e 1952, vai buscar a sua origem à Ribeira do Portal da Burra, nos cabeços da Ribeira do Seixal, a mil metros de altitude, numa extensão de 51.245 metros a céus descoberto e 9 322 subterrâneos, sendo acrescida duma rede secundária de regadio com 70 000 metros, dos quais 11 000 são para irrigação de S. Vicente e 59 000 para a irrigação da Ribeira Brava, Campanário, Quinta Grande, Estreito e Câmara de Lobos. Este ambicioso projecto para além de aumentar a agricultura nas referidas freguesias da costa Sul da ilha da Madeira, vai abastecer uma importante Central Hidroelétrica da Serra de Água.
Esta obra foi inaugurada no sítio do Espigão, da freguesia da Ribeira Brava no primeiro de Julho de 1952, numa cerimónia oficial conhecida pela Festa da Água. No seu terminal a levada trazia desde a fonte do Hortelão, na freguesia do Seixal um caudal de cerca de 500 litros por segundo. Uma outra levada importante é a levada do Moiro: com origem na Ribeira do Folhadal, Pináculo e Monte Trigo, a 1450 metros de altitude, tem uma extensão de 10 Km, servindo para irrigação de S. Vicente, Ribeira Brava e Tábua. Atendendo ao crescimento de habitações na Ribeira Brava, o consumo de água aumentou significativamente e, por isso, construiu-se recentemente reservatórios de água para abastecimento das populações da zona alta e da vila.


Bibliografia:

Carvalho, A.M. G.; Brandão, J.M. (1991) “Geologia do Arquipélago da Madeira”. 1ª edição. Museu Nacional de História Natural.

Duarte S & Silva M. (1987) “Hidrogeologia das Rochas Vulcânicas” DGSB (Divisão de Hidrogeologia Aplicada), Funchal, 8-17 Setembro

“A Levada do Norte” in D.N. Madeira, 5 de Junho de 1991

Fotos: Prof. Sílvio Jesus




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