segunda-feira, 6 de abril de 2009

FLORA ENDÉMICA DA MADEIRA

O estudo dos endemismos do arquipélago madeirense, a sua origem, a sua génese, o seu elevado número, as suas relações com as floras de outras ilhas mais ou menos próximas, de outras regiões ou continentes, constitui um trabalho de muito valor cientifico que tem vindo a preocupar muitos investigadores desde à muito tempo ( entre os quais Darwin, Braun-Blanquet, C. N. Tavares,...etc.

Origem.
As análises de fósseis do Sudoeste de França revelam a existência de árvores, nomeadamente de Laurus primigenia e Persea typica, afins aos nossos actuais Loureiro (Laurus azorica) e vinhático (Persea indica) que datam do Oligocénico (38 milhões de anos). Tudo indica que durante o Miocénico (23 milhões de anos), comunidades vegetais da família Lauráceas com aspectos semelhantes à flora que actualmente persiste nas Ilhas Atlânticas (em especial a Ilha da Madeira) continuavam a ocupar a Europa Ocidental. Esta flora terá desaparecido da Europa Ocidental durante o Quarternário (Plistocénico – 1,8 milhões de anos), devido ao considerável arrefecimento climático que acompanhou as sucessivas glaciações. Simultaneamente iniciou-se a desertificação do Saara, impedindo o estabelecimento, dessa flora com características subtropicais, no Norte de África.
A Madeira apresentando um clima propício e estável, favoreceu o estabelecimento de uma parte considerável desta flora.


Macaronésia
A Madeira pertence à região Macaronésia, termo introduzido pelo botânico Philips Barker Webb no século passado, para caracterizar ilhas com afinidades biogeográficas: Açores, Madeira, Selvagens, Canárias e Cabo Verde.
Outros investigadores, consideram pertencer a este domínio biogeográfico, para além destas ilhas, a costa Atlântica de Marrocos e o sudoeste da Península Ibérica. Em Portugal foram feitas descobertas botânicas, particularmente nas falésias da Serra da Arrábida, que alargam este domínio ao Continente Português.

Factores que explicam a sua permanência:


q Localização geográfica:

Ø A Madeira devido a sua posição geográfica apresenta um clima mais favorável e estável em relação ao norte de África e a Europa.

q Características geomorfológicas:

Ø Origem vulcânica, geomorfologia particular (profundos vales com predomínio da direcção Norte – Sul)

q Características climáticas:

· Temperatura

Por ser uma ilha de origem vulcânica, existem rochas, que funcionam como um “forno” concentrando o calor. Durante o dia, as rochas concentram o calor do sol e durante a noite irradiam este mesmo calor para o ambiente, a tal ponto, que é muito pouca a diferença de temperatura entre o dia e a noite.

· Humidade

Os ventos alísios, correndo de norte para sul criam uma abundância de nevoeiros húmidos que provocam a precipitação, dando origem a uma temperatura ambiente propícia ao crescimento e fazendo surgir as águas necessárias a toda a espécie de vida.
Estes factores combinados permitem a existência de habitats propícios ao desenvolvimento de endemismos.

FLORA INDÍGENA DA MADEIRA


A floresta Laurissilva da Madeira foi reconhecida como Património Mundial Natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Uma consagração internacional que vem premiar um esforço de conservação desenvolvido ao longo dos últimos anos e que abre portas para novas candidaturas da Região. Em Marraquexe (Marrocos), a UNESCO incluiu a Laurissilva no restrito lote de “sítios” a proteger e que constituem o espólio da humanidade. Pela primeira vez, Portugal incluiu um local no património natural, uma classificação ainda mais rara do que o património cultural.

In, Revista do D.Notícias – Madeira de 5 a 11/12/99


A flora indígena madeirense constitui um dos maiores atractivos da ilha, atendendo ao seu interesse científico e económico.
A floresta originária da Madeira, a Laurissilva, é considerada uma relíquia viva, com origem na era Terciária (há indícios que durante o Miocénico – 23,3M.a., comunidades vegetais caracterizadas pela presença de Lauráceas, continuavam a ocupar a Europa Ocidental, com aspectos semelhantes à flora que actualmente persiste nas ilhas Atlânticas e em especial na ilha da Madeira). Esta flora terá desa-parecido da Europa durante o Quaternário (Plistocénico – 1,64 M.a.) devido ao considerável arrefecimento climático que acompanhou as sucessivas glaciações. Simultâneamente inicia-se a desertificação do Saara, impedindo o desenvolvimento dessa flora com características subtropicais, no norte de África. Terá sido na Madeira, ilha que apresenta um clima favorável e estável, que se estabeleceu uma parte considerável da outrora flora Terciária da Europa.
Aparece conservada nos arquipélagos que constituem a Macaronésia do qual fazem parte para além do nosso, os arquipélagos dos Açores, Canárias e Cabo Verde. A totalidade da área desta floresta na Madeira (15 000 hectares), dada a sua importância científica e o seu estado de conservação, foi incluída em 1992 na Rede Europeia de Reservas Biogenéticas (áreas protegidas onde ocorrem ecossistemas, biótopos e espécimes únicos, raros ou ameaçados de uma dada região), sob a égide do Conselho da Europa e muito recentemente foi classificada como Património Mundial Natural sob a égide da UNESCO.
Na ilha da Madeira segundo os investigadores podem defenir-se várias zonas ou andares de vegetação (andares fitoclimáticos), embora a altitude correspondente a cada andar de vegetação tenha uma equivalente ligeiramente superior na encosta virada a Norte, atendendo ao clima ser mais frio e húmido. Pode inclusive ocorrer a mistura de plantas dos vários andares contíguos.

Assim, a Flora Indígena actual está distribuída em altitude do seguinte modo:

1º ANDAR – VEGETAÇÃO COSTEIRA, junto ao mar e até uns 300 metros de altitude na costa Sul, o clima e o ar é mais quente e seco e apenas aos 100 m no Norte, temos uma vegetação de características xerofíticas de porte predominantemente rasteiro, adaptadas a habitats com pouca água disponível, temperaturas elevadas, forte insolação e ventos fortes com maresia, onde os arbustos raramente atingem mais de um metro.
O Dragoeiro (Dracaena draco) deveria dominar. É uma árvore endémica dos Arquipélagos da Macarronésia, sendo actualmente extremamente rara na ilha da Madeira.
No habitat natural apenas existem dois espécimes na Rª Brava na vertente a E da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares, e um núcleo no sítio das Neves, em S. Gonçalo. De entre os arbustos destacam-se o Perrixil ou Funcho marinho (Crithmum maritimum L.), tem por habitat as falésias basálticas do litoral onde o calor é intensivo e a humidade é escassa. Raramente ultrapassa os 100 m de altitude. A sua floração ocorre entre Julho e Setembro; o Funcho (Foeniculum vulgare) e a Figueira do Inferno (Eufhorbia piscatoria) são arbustos muito comuns nas falésias e terrenos do litoral até cerca de 300 m de altitude. Florescem em Abril e Maio; a Globulária ou Malfurada (Globularia salicina) é comum no litoral, nas arribas à beira mar. Floresce entre Abril e Setembro; a Oliveira brava (Olea europaea ssp maderensis).
O Goivo da Rocha, ou Cravo de Burro (Matthiola maderensis Lowe) vegeta os terrenos do litoral. As suas flores violáceas surgem entre os meses de Março e Agosto; a Múchia (Musschia aurea L. Fil. Dumort) é uma planta vivaz, está perfeitamente adaptada à secura extrema. As suas flores amarelo ouro surgem em Agosto e Setembro. Temos também o Massaroco (Echium nervosum).

2º ANDAR – VEGETAÇÃO DE TRANSIÇÃO, entre os 300 e 600 m, aproximadamente, num ambiente mais fresco e húmido temos o bosque de transição, onde prosperam o Barbusano (Apollonias barbujana), a Faia das Ilhas (Myrica faya); o Azevinho (Ilex canariensis) e a Murta (Myrtus communis).


3ºANDAR – LAURISSILVA, entre os 600 e os 1300 m, correspondente a uma área onde a humidade relativa é a mais elevada da ilha (superior a 85%), o maior valor de precipitação (mínimo 1700mm/ano) e frequência de nevoeiros, temos alguns núcleos de Laurissilva. Esta floresta é de uma grande diversidade florística, e é ao nível do estrato herbáceo inferior que se encontram a maior parte dos endemismos. Saliente-se a Orquídea da Serra (Dactylorhiza foliosa) que é uma espécie de orquídea muito rara; Os Gerânios (Geranium maderense e Geranium palmatum); a Estreleira (Argyranthemum pinnatifidium) e a Godiera da Madeira (Goodyera macrophyla Lowe), orquídea endémica. No estrato arbustivo desta floresta salienta-se a espécie endémica da Madeira – o Isoplexis (Isoplexis screptum).la sua excelente madeira.
A Laurissilva é importante no estabelecimento do equilíbrio ecológico insular, sendo o principal suporte da fauna e flora endémicas, assim como fundamental na formação e fixação de solos. Esta floresta é também conhecida como “produtora de água”, atendendo ao seu efeito nas precipitações verticais, assim como através de fenómenos locais de captação de nevoeiros, designados de precipitação horizontal ou oculta.

4º ANDAR – VEGETAÇÃO DE ALTITUDE, superior aos 1300 m temos a chamada vegetação de altitude, caracterizada por suportar um clima rigoroso, com grandes amplitudes térmicas e ventos intensos. O granizo chega a cobrir extensas áreas nos meses mais frios. Nas fissuras das rochas, com algum substrato, e fora do alcance do gado, desenvolve-se uma vegetação adaptada a estas condições do meio onde abundam um grande número de endemismos. As espécies mais características são: Urze madeirense (Erica maderensis); Violeta da Madeira (Viola paradoxa); Arméria da Madeira (Armeria maderensis). Temos outras espécies endémicas como: Antlídea da Madeira (Anthylis lemanniana); o Massaroco (Echium candicans L.); (Festuca albida); uma gramínea com utilidade forrageira e com capaci-dade para ser utilizada no melhoramento de prados; Orquídea das Rochas (Orchis scopulo-rum).
No estrato arbóreo encontra-se a Urze Molar (Erica arborea L.); a Urze Durázia ou Urze das Vassouras (Erica scoparia L.); o Cedro da Madeira (Juniperus cedrus); a Sorveira (Sorbus maderensis); o Teixo (Taxus baccata L.).

É importante não esquecer a componente vegetal formada por plantas mais pequenas (fetos, musgos, hepáticas e algas) e líquenes, os quais de menores dimensões não são menos importantes que as supracitadas, e que contribuem para o equilíbrio destas comunidades.
Relativamente aos musgos e aos líquenes, muitas espécies são pioneiras de determinados habitats, inóspitos para outros tipos de vegetais, apresentando assim uma função relevante no que respeita ao criar de condições que venham a permitir a colonização à posteriori por parte de outros seres vivos, nomeadamente plantas vasculares.

Legislação

A importância desta biodiversidade é reconhecida em termos nacionais, pela criação do Parque Natural da Madeira e diversas Reservas Naturais, e internacionalmente pela legislação comunitária, Directiva 92/43/CEE do Conselho, de 21/5/92, e a integração de alguns habitats na rede Natura 2000.

Medidas de conservação de que beneficia as espécies:

Decreto Legislativo Regional nº 21/89/M. A sua área de ocorrência integra-se no Parque Natural da Madeira, num sítio da Rede Natura 2000 (PTMAD0001), numa área que é Património Mundial pela Unesco.

Bibliografia

JARDIM, Roberto; FRANCISCO, David; Flora Endémica da Madeira; 1ª edição; Muchia Publicações, Out. 2000

FERNANDES, Francisco; e outros; Alguns Aspectos da Flora do Arquipélago da Madeira; Jardim Botânico da Madeira, 30 de Abril, 1997

VIEIRA, Rui; Flora Endémica da Madeira - O Interesse das Plantas Endémicas Macaronésicas; vol. 11;SNPRCN, Funchal, 1992

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